A importância das cotas raciais está associada ao conceito da equidade aristotélica. A teoria de Aristóteles resume-se em tratar desigualmente os desiguais – reconhecendo que toda a pessoa necessita de cuidados, mas não necessariamente dos mesmos cuidados – promovendo assim, uma efetiva igualdade.

Por exemplo, se duas pessoas forem concorrer nas mesmas condições, tendo vidas completamente distintas no âmbito econômico, social e educacional, certamente a desigualdade será perpetuada.
Logo, as ações afirmativas surgiram como medidas temporárias que, buscam eliminar desigualdades historicamente acumuladas.
Onde o erro foi perpetuado
O regime escravocrata perdurou por quase quatro séculos, sendo abolido em 1888 após a Lei Áurea – sancionada pela Princesa Isabel. A lei concedeu liberdade total aos então escravos (cerca de 700 mil), abolindo a escravidão no país.
Entretanto, o processo de abolição não foi tão simples assim. Em 1887, a situação no país já havia se tornado insustentável. Espalhavam-se pelo país, várias revoltas por parte dos escravos que, opunham-se contra seus senhores e fugiam.
Movimentos Abolicionistas se organizavam de diferentes formas: estabelecendo conferências e divulgando panfletos. As autoridades já não conseguiam manter o controle.
Em suma, a abolição resultou diretamente do engajamento e pressão popular sobre o império. Não foi benevolência alguma por parte da monarca.
Os negros, agora livres, não receberam garantia alguma do estado ou ação de politicas públicas a seu favor. Foram expulsos das fazendas e os senhores foram totalmente eximidos da responsabilidade pela segurança e manutenção deles.
Durante a transição do trabalho escravo para o assalariado, não era o negro que estava em pauta nas ações políticas brasileiras. Sobretudo, a pauta era a introdução de trabalhadores europeus que, foram atraídos por uma grande campanha publicitária, que lhes prometia uma vida melhor no sul e passagem subsidiada pelo governo.
Por fim, o negro se viu abandonado à própria sorte, numa sociedade extremamente racista. Os recém libertos não encontravam oportunidade alguma. Ninguém empregava negros.
Os negros ganharam a liberdade, mas ficaram sem moradia, emprego e excluídos, visto que não havia mecanismo algum de inclusão eles. Consequentemente, saíram das senzalas para as favelas.
A importância das Cotas
Muitas pesquisas sociais e demográficas mostram que os autodeclarados pretos ou pardos, são maioria nos índices de analfabetismo e desemprego, além de ter menor renda mensal.
Já as estatísticas de cor ou raça, produzidas pelo IBGE, mostram que em média, brancos tem maiores salários, sofrem menos com desemprego e são maioria entre os que frequentam o ensino superior.
Por isso a importância das cotas raciais. Este problema social só pode ser resolvido com a adoção de politicas publicas, como o sistema de cotas. Tais politicas visam reparar aqueles que foram sistematicamente marginalizados e excluídos da sociedade durante tanto tempo.
Críticos da politica de cotas e do estatuto da igualdade pregam que tais medidas passam a ideia de que o negro é inferior ou incapaz. Entretanto, esta é uma visão totalmente equivocada – por falta de conhecimento histórico – ou maldosa.

Negros e pardos representam mais da metade da população brasileira. Contudo, se fazem minoria em espaços considerados importantes como cargos de liderança, cargos de relevância social e possuem pouca representatividade no ensino superior.
A quantia de negros dentro de universidades é praticamente insignificante se comparado ao número de brancos. Toda essa desigualdade é consequência direta da escravidão. Logo após a abolição, a taxa de desemprego e falta de estudo era de 90% entre a população negra.
Foi-lhes negado OPORTUNIDADE!
Infelizmente, não podemos mudar o passado. Não há como voltar no tempo e dar-lhes tudo o que lhes foi negado. Mas, podemos alterar o futuro, oferecendo a população negra, chances de capacitação e qualificação, para atender as demandas do mercado de trabalho.
Nós temos uma dívida histórica para com o povo preto e a inclusão destes através das cotas raciais é uma forma de reparar esta dívida. Tal ação afirmativa vem para equilibrar uma sociedade totalmente desigual e é importantíssima para a transformação social.
Cota não é privilégio, é reparação. É um processo para fazer justiça à mão escravagista que construiu essa nação.